Canta da torre o trovador saudoso
-- Addio, Eleonora! oh! sonhos meus!
E o canto se desprende harmonioso,
Na vibração final do extremo adeus.
Canta da torre o trovador saudoso
-- Addio, Eleonora! oh! sonhos meus!
E o canto se desprende harmonioso,
Na vibração final do extremo adeus.
Repercute dolente, mavioso,
Subindo pelo Azul da Inspiração;
Assim canta também meu coração,
Trovador tortorado e angustioso,
Ai! não, não acordeis, lembranças minhas!
Saudade d’umas noutes em que vinhas
Cantar comigo um doce desafio!
Mas, pouco a pouco, os sons esmorecendo,
Perdem-se as notas pelo Azul morrendo,
-- Addio Eleonora, addio, addio!
Augusto dos ANJOS (1884 - 1914) - Eu e Outras Poesias.
Augusto dos Anjos é um dos mais originais poetas brasileiros, e também um dos mais populares. Sua obra consiste, porém, em apenas um livro. Eu foi publicado ainda em vida do autor; outros poemas, publicados em periódicos ou inéditos, foram coligidos após sua morte e acrescentados ao volume organizado pelo autor, renomeado então Eu e Outras Poesias . Aclamada pelo público e pela crítica, sua obra foi repudiada por muitos em sua época, e ainda causa estranheza, pela mistura de vocabulário coloquial e científico, pelos temas exacerbadamente macabros e pessimistas, pelo exagero sistemáticos na linguagem e no tratamento dos temas. Não obstante as controvérsias que cercam sua obra, muitos de seus versos caíram no uso popular, tais como um urubu pousou em minha sorte , a mão que afaga é a mesma que apedreja e outros.
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